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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Europa, os devedores, os credores... pobre do povo

Em jeito de resumo, aqui vão alguns dos resultados que consegui apurar na sequência da reunião da Zona Euro:

1.      Ao fim de 10 horas de reunião (sim, porque isto não é um conselho de estado qualquer) Europa acorda no perdão de metade (isso mesmo, metade) da dívida Soberana Grega.

2.      O presidente do Conselho Europeu anunciou, também, que a Zona Euro e o Fundo Monetário Internacional vão atribuir a Atenas mais 100 mil milhões de euros.

3.      Anunciou, ainda, o reforço do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira dos atuais 440 mil milhões de euros para um bilião de euros, para proteger as economias espanhola e italiana.

4.      Segundo o presidente francês, Sarcozy, “os resultados são um grande alívio para todo o mundo".

5.      Os países da Zona Euro assumiram implementar ações no sentido de evitar novos desequilíbrios orçamentais (para termos um futuro mais equilibrado, rigoroso e pacífico) – que podem implicar a modificação das suas constituições - até o final de 2012.

6.      A Europa elogiou o esforço de Portugal e da Irlanda no cumprimento dos programas de ajustamento ao abrigo da ajuda externa.

7.      Lembrou aos dois países para se manterem focados nas metas acordadas.

8.      Ainda assim, recordou que Portugal e Irlanda deveriam estar dispostos a tomar “quaisquer medidas adicionais” necessárias para atingir essas metas".

9.      Passos Coelho mostrou-se satisfeito com a solução encontrada para a Grécia pois “prevenirá um eventual efeito de contágio” que poderia forçar Portugal a necessitar de um novo programa de ajuda.

10.  Lembrou que tinha admitido, teoricamente, a necessidade do programa de assistência a Portugal ser reforçado devido à situação da Grécia, o que parece estar ultrapassado.

11.  No entanto, admitiu, de acordo com que o memorando de entendimento assinado com a troika, que haja reajustamentos ao programa de ajustamento em curso no nosso país, caso as premissas iniciais se alterem.

12.  Por fim, Berlusconi lança olhares indiscretos à primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt.

Eu diria: ainda bem que isto se resolveu assim; e notem que não escrevi: ainda bem que isto acabou assim!

A situação da Grécia era reconhecidamente insustentável, por isso penso que só havia duas coisas a fazer: perdoar a dívida ou implodi-la e construir por lá uma espécie de estância balnear europeia. Como se optou pela primeira opção – abateu-se metade da dívida com um bónus de 100 mil milhões de euros – tudo pareceu mais pacífico, inteligente, concertado e civilizado.

Como diria Sarcozy, estamos todos mais aliviados.

O reforço considerável do FEEF tendo em consideração “os gigantes” espanhol e italiano também me parece bem. É mais um sinal forte para os mercados.

Daí para baixo é o mesmo de sempre: aquilo que temos de bom, ou de mal, isto é, o fado português: estão a fazer um grande e meritório esforço para atingir os objetivos acordados. Por isso está tudo bem. Case Closed. No More Money. Pois claro, não era isso que estava em agenda. É que estamos a ser, novamente como noutros passados, um caso de sucesso, por isso… deixa andar que a coisa está a correr sobre rodas.

Quanto ao efeito dominó a que se refere Passos Coelho, concordo plenamente. Só é pena que este maldito efeito só funcione num sentido… que diabo, poderia ter havido um efeito dominó destes perdões e benesses atribuídos à Grécia e sempre nos faziam um pequeno desconto… assim na perspetiva de saldo de ano novo, sei lá?

Note-se o aviso subliminar do nosso primeiro-ministro quanto ao reajustamento do ajustamento. É para levar a sério, senão vejamos: quando disse que não fazia, fez; quando disse que não repetiria atitudes de outros, repetiu; quando disse que não aumentaria, aumentou. Se agora vem, mansamente, falar de reajustar… só não preparo a carteira porque já não a tenho… mas, num dia de sol europeu, é de esperar umas nuvenzitas em solo lusitano.

Assim foi. Como já disse e redisse, vivemos num mundo em que líderes políticos e países inteiros são marionetes de mercados e poderes financeiros. Houve solução. Mas, seguramente, não houve inovação, pois tudo continua a ser feito, exclusivamente, em torno do dinheiro. Certamente virão, brevemente, outras tormentas, que obrigarão não apenas às soluções de sempre mas à inevitável inovação: não nos esqueçamos, uma vez mais, que estes equilíbrios agora conseguidos não são mais do que, como sempre, conseguir sacrificar o povo (e é esta capacidade opressora, no fundo, que os líderes europeus elogiam aos líderes nacionais) para conseguir pagar as dívidas, ou seja, os mais pobres entregam grandes fortunas a ricos credores. Tudo isto, após gestões nacionais calamitosas devidas a gente que também ganhou muito com toda a tragédia por si criada. Isto não me parece indefinidamente sustentável.

Brevíssimo comentário ao ponto 12: descobri, finalmente, porque é que Berlusconi ainda é primeiro-ministro italiano: fica bem, a malta gosta, é de macho!