Sabemos hoje que os cortes no
subsídio de férias e de Natal dos funcionários públicos e pensionistas foram
anulados pelo afundamento nas receitas do IVA. Isto é, o exercício de infligir o
pagamento da crise a alguns milhões de portugueses, especificamente diferenciados
de uma forma que revela claramente a ideologia xenófoba de quem assim decidiu,
não deu em nada.
Assim, a sublime ideia de taxar a “escandalosa
fortuna” dos funcionários públicos e pensionistas deixou exposta uma evidência natural
sobre o atual governo: pose de seriedade, pose de competência, pose de
conhecimento, pose de superioridade moral sobre adversários políticos, pose de
eficiência, … pose, pose, pose e nada mais!
A austeridade cega, e por isso mesmo incompetente,
injusta, resultou em contração económica, pelo que as receitas converteram-se
alegremente num balão cheio de ar e pouco mais. Penso que qualquer ser vivo
razoavelmente pensante entende esta equação: se roubamos o pouco que as pessoas
têm, elas não pagam com o que não têm. Não fazem despesa; pagam menos impostos.
Por um daqueles azares, certamente resultante de uma mais que improvável
conspiração maléfica do universo, ocorreu que apenas os membros do atual
governo português não se aperceberam desta realidade comezinha.
Acrescentemos mais alguns ingredientes à mistela.
Vejamos o que aconteceu com o endividamento deste país no espaço de um ano.
1.
As famílias -
os particulares - reduziram a sua dívida em sete mil milhões de euros (resolveria
o buraco da Madeira se não fosse a notável massa crítica que por lá se mantém).
O endividamento das famílias cai para o nível de Junho de 2008.
2.
Nas empresas,
a dívida cresceu 1,6 mil milhões de euros. OOOOPPPSSS!!!!
3.
No sector ESTADO
– administrações e todas as empresas públicas – gerido e/ou tutelado pelo nosso
eficiente e sério governo, a dívida cresceu, derrapou, 6,9%. O que, bem feitas
as contas, derrete, deita a perder e ultrapassa
a redução efetuada pelas famílias. Quem diria?
De onde veio a real poupança? Das famílias.
As empresas portaram-se bem? Têm a desculpa do
jugo contributivo que recai sobre si.
Quem derrapou? Num ano, a dívida das entidades
públicas aumentou em 16 mil milhões de euros. Contenção? Só se for a nova piada
de Verão!
O que acontecerá face a estes números? Nada. Os
governantes continuarão a asnear, a beneficiar de regalias que fariam corar os
governantes de qualquer país rudimentarmente civilizado, e a fermentar a sua
rede de contactos e apetitosos negócios. As empresas gerarão lucros suficientes
para que os patrões possam continuar a atualizar os seus carrinhos alemães (conter
mas nem tanto) e o povinho continuará a ser levado na curva…
Eis os números da dívida da economia portuguesa:
Famílias: 100% do PIB;
Empresas: 185% do PIB;
Sector público: 148% do PIB.
Na totalidade, a economia portuguesa deve 430% do
PIB, sendo que a única redução digna de registo no último ano deve-se
exclusivamente às famílias.
Competência:
Empregaria algum patrão uma malta que, ao fim de
um ano, produzisse tão deslumbrante variação de números na sua empresa? Sim, mas
apenas em caso de ebriedade profunda, comatosa e irreversível! Sim, mas apenas
para beneficiar dos expedientes imorais de todos os políticos que inevitavelmente
desaguam no sector privado porque entregam, de mão beijada, negócios com o
estado… e podem fazê-lo pois eram eles que geriam o estado ainda na véspera.
Moralidade:
(1)
Contenção e
cortes - o que foi feito quanto às regalias e mordomias de políticos e gestores
que viviam, vivem e viverão sempre abusivamente ricos num país abusivamente
pobre?
(2)
Moralidade?
Qual o nome da figura pública envolvida no processo vergonhoso das viagens dos
deputados? Enrolada num escândalo de pressão sobre a impressa e “ilibada” por
uma pandilha que dá por nome de ERC? Enterrada até o tutano no caso das
secretas? Licenciada no processo académico mais abjeto de que há memória e que,
por justa causa, eleva o Eng. Sócrates a Doutor Honoris Causa? Figura que
continua no ativo, como se nada fosse, como se o país fosse apenas habitado
pela Alice e o seu inseparável coelhinho branco? Figura relativamente à qual o
corretíssimo e impoluto atual primeiro-ministro apresenta uma “adição” cuja
solução não pode, infelizmente, ser encontrada em nenhum consultório de
psicanálise de que haja conhecimento ou em qualquer outro fórum dedicado a este
tipo de handicaps?
Aguardo num estado de
excitação incontrolável a rentrée dos magnânimos líderes do PSD e PS (digo,
jotinhas) pois estou certo que é desta que virá a lume, certamente, a solução
dos intrincados problemas da nação!