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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Espiral Europeia

Depois de sabermos que a França afinal não é o paraíso economico que todos acreditavam ser; depois de uns falsos alarmes quanto a baixar o seu rating, vem o Presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, afirmar ser "preocupante o elevado nível da dívida alemã". Estamos a falar da Alemanha, o motor da Europa, aquele país sólido cuja economia nem depende dos restantes companheiros europeus. E Junker disse mais: "A Alemanha tem dívidas mais elevadas do que Espanha. Mas aqui ninguém quer saber disso".

Por fim tranquilizou-nos a todos - a mim nem tanto, mas também não finjo que sou otimista - afirmando que não existe risco de colapso na zona euro.

Sobre a impossibilidade de colapso na zona euro, recordo uma frase de Arthur C. Clarke:

"Quando um velho e reputado cientista disser que alguma coisa é possível, quase sempre estará certo. Quando disser que é impossível, muito provavelmente estará errado."

É evidente que a analogia é leviana. Seja como for, há um especialista que afirma que o Grande Motor não é, afinal, um autêntico mar de rosas.

Toca a reduzir os acidentes (e não só)

O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, anunciou a instalação de radares de controlo de velocidade. Para tal vão ser gastos quatro milhões de euros.

Assim que vi esta disponibilidade governamental para gastar dinheiro, como bom português, fiquei logo com um pé atrás. Pensei: pois é, com o incremento de multas que vão conseguir pagam num instante o investimento e depois é sempre a lucrar.

Afinal, veio a explicação do ministro:  é "crucial" a diminuição do número de acidentes em ambiente urbano.

Também concordo que esta diminuição é crucial. Acho é que o ministro podia ter um discurso mais completo e, neste caso, honesto na explicação de tal investimento.

Ricos, Pobres e Mia Couto

Os dados deste texto referem-se a um estudo do INE editado em 2010. Há uma série de indicadores nesse estudo dos quais vou referir apenas um: Desigualdade na distribuição de rendimentos. Para calcular este indicador divide-se o rendimento monetário líquido dos 20% da população com maior rendimento  pelo rendimento líquido dos 20% da população com menor rendimento.

Conclusão: No último ano do estudo esse valor era de 6 em Portugal enquanto a média Europeia situava-se nos 4.8.

Nada de novo, além de mais pobres que os Europeus, há maior distância entre ricos e pobres. Penso que o mundo em geral e Portugal em particular (dos países Africanos nem se fala) encaixam na frase de Mia Couto:

"A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos."


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Portugal: Bem-me-quer, Malmequer, …

Taxas de fecundidade

Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas, realizado num universo de 188 estados, Portugal vai ter nos próximos quatros anos a segunda mais baixa taxa de fecundidade (1.3 filhos por mulher, tal como Áustria e Malta). Pior mesmo, só a Bósnia-Herzegovina (1.1) – espero que no jogo do play-off da segunda mão que se realiza hoje entre os dois países sejamos, também, um nadinha mais produtivos do que eles…

A China, sendo o país mais populoso do mundo, apresenta uma taxa de fecundidade baixa tal como nos países ocidentais (1.6)

A Índia, pelo contrário, sendo o segundo país mais populoso, apresenta uma taxa elevada (2.5). A tabela é liderada pelo Níger (6.9), seguido pela Somália e Zâmbia (6.3), Mali (6.1) e Maláui e Afeganistão (6).

Dá para entender estes valores ou não?

Taxas de mortalidade infantil

Suécia e a Singapura são os países com melhores indicadores com 2.8 crianças falecidas até aos cinco anos entre cada mil nascimentos. Islândia e a Eslovénia (3), a Finlândia (3.2), Japão e a Noruega (3.3), a Grécia (3.4), Chipre, a República Checa (3.5) e Portugal (3.7).

Então e os ricos países europeus Alemanha e França, entre outros? Claro, eles é que têm os melhores sistemas de saúde e os profissionais mais competentes… mas, deduz-se do relatório, nós (e os Gregos) sabemos tratar melhor das nossas criancinhas? Curioso, não? Portugal e Grécia nos lugares cimeiros!

Os piores são o Chade (209 crianças mortas em cada mil), a República Democrática do Congo e Afeganistão (198.6), Guiné-Bissau (192.6), Serra Leoa (192.3) e Mali (191.1).

Esperança de vida

Portugal surge bem posicionado no que respeita à de esperança de vida: 83 anos para as mulheres e 77 para os homens que nasçam nos próximos quatro anos.

Particularmente em relação à esperança de vida feminina estamos em 14º lugar. Em primeiro lugar está o Japão (87 anos), seguem-se França, Espanha, Itália e Suíça (85); Singapura, Coreia do Sul, Israel, Islândia, Suécia, Áustria, Austrália e Martinica (84). Estamos em igualdade com a Finlândia, a Bélgica, o Canadá, a Grécia, a Irlanda, o Luxemburgo, a Holanda, a Nova Zelândia, a Noruega e a Eslovénia.

No fundo da tabela feminina surgem: Lesoto (48), Afeganistão, Suazilândia e Serra Leoa (49), Guiné-Bissau e Zâmbia (50) e Botsuana, República Centro Africana e República Democrática do Congo (51).

Na tabela masculina já não aparecemos tão bem na fotografia pois estamos em 23º lugar.

Em primeiro lugar estão: Suécia, Suíça, Austrália, Islândia, Japão e Israel (80).

Comparando Portugal com o Japão, líder nos indicadores feminino e masculino, digamos que as viúvas Japonesas têm mais um ano para chorarem a morte dos maridos… ou suspirarem de alívio – tudo depende da perspetiva.

Os piores países para os homens são: a Guiné-Bissau e a República Democrática do Congo (47), a República Centro Africana e Serra Leoa (48), Chade, Zâmbia e Afeganistão (49).

Juro que não entendo estes números. Como é possível que os “malandros do Sul da Europa” ousem sequer se posicionar em alguns indicadores melhor do que os ricos e competentes?

O Mago das Adivinhações Impossíveis

Ficamos a saber que o Grande Houdini, perdão, Nouriel Roubini, o economista que previu a crise financeira de 2008 vê como provável a saída da Grécia e de Portugal da Zona Euro dentro de 12 a 18 meses, declarando serem «um caso perdido», o que não é muito problemático pois «são suficientemente pequenos para saírem do euro de forma minimamente ordeira, se Itália e Espanha forem devidamente protegidas». No entanto, se «Itália e Espanha, as terceira e quarta maiores economias da Zona Euro, tivessem de sair do euro, então isso significaria efetivamente a rutura» da moeda única.

Ou seja, ninguém, neste momento, liga sequer a Portugal ou está a ponderar na sua real situação, mas o fato, a realidade, segundo o economista, é que somos mesmo um caso perdido.

Bem, vou fazer também de Houdini… Roudini, já nem sei, estou baralhado com a brutalidade das setenças: A Itália, tal como o Sílvio, já foi. Quando os mercados se convencerem de que assim é vão dirigir os seus olhinhos especulativos para Espanha… e depois é a velha conversa dos juros da dívida que já estão nos 7%, Ai Jesus, etc.. Adeus Europa a uma, duas ou quantas velocidades quiserem. Sejamos, pelo menos, bons negociantes e comecemos a produzir já muito espumante pois a exportação vai disparar quando isso suceder.

sábado, 12 de novembro de 2011

Mensagem azarada

Na quinta-feira, 10-11-2011 a Standard & Poor's (S&P) cortou o rating da França: o apetecível valor triplo A relativamente à sua dívida soberana.

Consequentemente, os mercados da dívida fizeram disparar os rendimentos dos detentores de títulos do Tesouro francês.

Rapidamente a S&P desmentiu o corte de notação, justificando-se com a existência de um erro técnico (???).

Na realidade desconhece-se se foi um "descuidado" sinal preventivo, isto é, se o sistema automático gerou (e difundiu) um aviso antes do tempo.

Entretanto a discrepância do spread entre os juros dos títulos franceses e dos títulos alemães aumentava a olhos vistos, o que, para países com a mesma notação, AAA, é incomportável.

Se fosse aplicado um estudo de análise de sensibilidade nesta situação específica, estaria cabalmente demonstrada a ineficiência e o mau funcionamento dos mercados: a INEXISTENTE mas erradamente (???) divulgada variação de um parâmetro nos EUA, faz com que um país estremeça na Europa - A França - e cria desequilíbrios graves entre França e Alemanha, dois países com "algum peso" no seio Europeu.

O conceito de eficiência dos mercados é uma virtualidade que existe apenas porque interessa a uma percentagem ínfima de poderosos agentes que operam nestes mesmos mercados.

Toda esta dinâmica diária dos mercados mundiais recorda-me com insistência crescente aquele submarino russo, o KURSK.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O campeão das posses

Quarta-feira, 9-11-2011, Alberto João Jardim tomou posse pela qualquer-coisa-ésima vez! Nesse momento solene, brindou a assistência com um discurso assim para o “compridote”.

Relativamente ao dito discurso:

Subscrevo completamente as críticas a uma constituição velha e desadequada, como é a portuguesa, e que já o era aquando da sua aprovação.

Esteve bem quando mostrou que, representando a população madeirense 2,5% da população portuguesa, o buraco madeirense representa 1,8% do buraco português. Se as contas não estão corretas, então é apenas mais do mesmo que já lhe conhecemos.

Tirando isto não vejo nada de interessante no restante discurso:

Foi demasiadamente longo; por várias vezes tive a sensação de estar a ouvir Fidel Castro.

Fez demasiadas citações: quase dando a impressão de que não tinha discurso próprio ou, então, tinha a necessidade de se justificar com as palavras dos outros.

Fez em direto, ao vivo e a cores, aquilo que me pareceu ser uma das declarações mais homofóbicas a que alguma vez assisti.

Exigiu mais poderes que, noutros contextos, até poderiam fazer sentido e ser discutidos. No entanto, deve ter uma falha no processador central que o impede de compreender que ninguém daria nada a alguém que confessa na televisão ter escondido deliberadamente as contas (as dívidas, os buracos), escarnecendo de tudo e de todos, inclusivamente de leis a que está sujeito.

Falou de questões de justiça e de igualdade que, por momentos, fez esquecer que tem sido, ele, há décadas, o presidente do governo regional da Madeira, com os seus discursos disparatados, ofensivos e ação democrática altamente discutível… isto para não usar um termo mais rigoroso.

Por vezes invocava as leis em autodefesa; logo a seguir atacava-as, deixando antever um certo traço de dupla personalidade ou, talvez, de que o discurso tenha resultado de uma composição de textos de diferentes autores.

Uma última nota para a ampla assistência que, por razões óbvias, oscilou entre a hipnose ligeira e o sono profundo.

OE 2012 e a comitiva na Disneyland

O OE 2012 foi hoje aprovado na generalidade. Não há muito a dizer (ou há, mas já estamos fartos de saber, de comentar, de entender que serão rigorosamente os mesmos de sempre a sofrer – sem tirar nem por, um que seja)!

Ficamos a saber pelo ministro da Segurança Social, Mota Soares, que este orçamento tem em consideração os mais desprotegidos. É claro que, por uma questão de justiça social, isso tranquilizaria um pouco as mentes mais solidárias, altamente deprimidas depois de nos terem demonstrado matematicamente que este orçamento aplicava linearmente o método da falsa truncatura, isto é, trunca cegamente onde é fácil – os tais de sempre, aquela classe que em tempos se chamou de média e da qual se dizia ser a espinha dorsal da sociedade - e em casos de riqueza mórbida assobia para o lado… se não me engano ouvi, neste contexto, o argumento de que era muito complicado.

No entanto, sol de pouca dura, ou nem há sol de todo. Vejamos o que valem as palavras dos políticos e vamos por nomes concretos: convivendo lado a lado com o paraíso prometido por Mota Soares aos mais desfavorecidos, o secretário de estado dos transportes, Sérgio Monteiro, que suspeito, terá alguma quezília com o referido ministro diz que os idosos e os estudantes vão perder os descontos de 50% nos passes sociais a partir de 01 de janeiro de 2012. Não carece perguntar o que havemos de fazer às folhinhas A4 dos discursos destas duas personagens!

A propósito, acredito que, por definição, o desacerto assenta bem no político, faz parte da sua essência enquanto ser falante e disléxico. Assim, recuo um pouco no tempo para lembrar-vos de como a harmonia governativa é uma questão de natureza puramente “conceptual”:

Em 31/10/2011 (ou por aí) o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Miguel Mestre, proferiu: “Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras”, acrescentando que o país não pode olhar a emigração apenas com a visão negativista da “fuga de cérebros”. Por outras palavras, aconselhou jovens a “dar o fora”.

Ora, em 2/8/2011, um tal de Álvaro Santos Pereira, que, se não me atraiçoa a memória é apenas o ministro da economia do mesmo governo, dizia: “se nada for feito, em breve estaremos todos emigrados”, apontando vários erros dos últimos anos de governação. Tudo isto é hilariante… tudo, não: estes nossos amigos, com o que ganham, não vão sentir a crise nem o resultado das suas próprias medidas de austeridade; mas a maioria dos portugueses, vai sentir e não é pouco.
Houve ainda a questiúncula de ameaçar as “amas” com pena de prisão (desculpem não detalhar a questão, ela está nos jornais com os argumentos de ambos os lados).

E, lá pelo meio, o primeiro-ministro, em pessoa, teve a necessidade de intervir, para explicar à nação, em particular, e ao mundo, em geral, que, afinal, o seu ministro dos negócios estrangeiros, Paulo Portas, não anda desaparecido nem um bocadinho. Afinal, reapareceu nas funções de acompanhante de luxo, ou VIP, se calhar parece menos esquisito. Cavaco Silva foi recebido por Obama durante meia hora. PP vai na comitiva Presidencial

Tal visita deixou-me confuso, pois cheguei a pensar que os problemas que tínhamos para resolver estão em Portugal e na Europa. Esta ida aos EUA faz-me lembrar um pouco conceitos como fuga para a frente e a necessidade de justificar o orçamento presidencial, etc..

De fato, depois dessa meia hora seria de esperar o quê? Que as taxas de juro esquizofrénicas que os mercados aplicam ao nosso país iriam baixar? Que os EUA vão-nos dar alguma coisa, uma mais-valia qualquer? Que a Europa vai encarreirar por um caminho mais decente, equilibrado e humano?

O que resultou deste encontro, certamente a reter para uma posteridade a longo prazo, pode resumir-se nos dois pontos seguintes:

Cavaco Silva garantiu que Portugal cumprirá as metas do programa de assistência financeira e Obama “expressou o apoio da administração norte-americana à execução do programa de assistência financeira que Portugal neste momento tem em prática” e reconheceu “a seriedade e responsabilidade dos portugueses em geral nesta matéria”.

A única questão pertinente que me ocorre é: o que é que esta comitiva foi fazer verdadeiramente aos Estados Unidos, aparte as compras que algumas das mulheres certamente aproveitaram para fazer?

É o nosso dinheiro a esvair-se em contínuo e em uníssono com os discursos da austeridade obrigatória.

Cristiano Ronaldo

Portugal joga hoje o primeiro jogo do playoff com a Bósnia. Um título do JN afirma: “Cristiano Ronaldo faz gesto ofensivo aos adeptos bósnios”. Isto aconteceu durante um treino realizado pela seleção nacional na Bósnia.

Convém esclarecer que não sou advogado, muito menos de Cristiano Ronaldo. Admiro-o enquanto atleta. Do que sei, está cabalmente demonstrado que é um sobredotado enquanto tal, quer se goste ou não. Não o conheço pessoalmente; ouvi aqui e ali uma ou outra das suas curtas declarações antes ou depois de jogos e vi um programa sobre ele. Com esse material não sou honestamente capaz de dizer que o rapaz seja arrogante, como é apontado por alguma gente do futebol e, particularmente, por adeptos de equipas adversárias. Percebo na sua forma de ser uma elevada autoestima e, quanto a isso, o mais que posso dizer é que a maioria das pessoas não a tem; mas também não tem aquilo que contribui para essa autoestima, por isso, é impossível avaliar positiva ou negativamente essa atitude. Se um rapaz com a sua idade tem o conhecimento claro e correto de que é, há já alguns anos, um dos melhores do planeta naquilo que faz, há alguns parâmetros que serão necessariamente reajustados relativamente a um rapaz “comum”.

Já vi escrito em entrevistas, jogadores adversários que afirmam que se tiverem de entrar às pernas de Cristiano Ronaldo não hesitarão e já li sobre jogadores, treinadores, gente do futebol e adeptos que julgam o carácter de Cristiano Ronaldo com uma soberba tal que se torna evidente que pouco ou nada estão a dizer sobre o visado mas muito dizem de si próprios.

Depois há a questão basicamente estéril, mas terrivelmente apetecida, pois vende imensamente - Quem é o melhor do mundo: Cristiano ou Messi?

Dirão as estatísticas e as métricas mais ou menos científicas que um é melhor numas coisas e o outro noutras e que, além destes dois jogadores, que por acaso até nem são os únicos no mundo do futebol, ainda há muitos outros que terão alguns parâmetros superiores a qualquer um destes dois.

Quando vejo um jogo de futebol, atividade a que não me dedico com particular frequência, gosto de apreciar equipas e jogadores porem à prova as suas qualidades singulares. Felizmente, já vi bons jogos com várias equipas e vários jogadores. O Cristiano e o Messi são, entre outros, dois eleitos.

Acredito num valor que se eclipsou do inconsciente coletivo da humanidade: o respeito pelo outro. Ora, a verdadeira questão do artigo do JN - adeptos de uma equipa adversária em permanente atitude de provocação - está longe de se encontrar materializada no seu título.

Decorre daqui, que discordo do título da notícia do JN: o gesto de Cristiano, desagradável por si só, não foi ofensivo, pois ele não tomou a iniciativa de ofender ninguém; trata-se de um gesto de alguém que está evidentemente saturado, pois desde que chegou a um determinado país tem sido constantemente provocado por gente, essa sim, arrogante, malcriada e sem qualquer noção elementar do que será o respeito pelos outros. E isto tem acontecido de forma permanente ao longo de anos: dá para perceber a essência do que aqui se passa?

Nestas ocasiões lembro-me de uma entrevista do presidente da UEFA que dizia que os árbitros protegiam o Messi e que ainda bem que assim era, pois era a forma do seu melhor futebol poder vir ao de cima. É pena, pois nunca iremos ver o melhor do futebol do Cristiano Ronaldo e de tantos outros jogadores vir ao de cima  pois não gozam dessa proteção específica.

Nestas ocasiões pergunto-me por onde andará a UEFA quando um dos grandes atletas é constantemente perseguido com provocações insultos.

Pois claro: a UEFA pura e simplesmente não está. É uma instituição em cuja isenção duvido que alguém acredite e, tal como a FIFA, nos últimos anos fez zero para que o jogo fosse mais justo e limpo. Condena arbitrariamente, quando lhe apetece e, além disso, sem qualquer relação com os seus próprios regulamentos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Face Oculta: o processo em que tudo parece mau e ninguém vai dentro?

Parece que a apresentação do processo Face Oculta em PowerPoint por parte do Ministério Público terá deixado alguns advogados de defesa muito irritados por, eventualmente, terem considerado o momento um Show Off para jornalistas.

Como costumo fazer inúmeras apresentações em PowerPoint, tendo a considerar a situação perfeitamente banal. Assim sendo, sem me querer sobrepor à opinião dos Senhores Advogados, acho que deveriam concentrar-se no seu trabalho e deixarem o seu próprio Show Off para jornalista ver ou, quem sabe, desviar atenções.

Numa palavra: verdadeiramente nada disto me preocupa no processo.

Preocupa-me, em primeiro lugar, que as escutas do processo tenham sido... como direi, sonegadas?

Preocupa-me que o Presidente do Supremo Tribunal da Justiça, Noronha do Nascimento, esteja acima de qualquer mecanismo que vise uma justiça transparente pois foi ele próprio, que decidiu a destruição das escutas e foi avisando que a sua decisão não era “sindicável”. Quanto poder concentrado apenas num homem – deve ter sido um momento de êxtase inolvidável.

Preocupa-me que os procedimentos processuais consentidos nas ininteligíveis e absurdas leis portuguesas permitam que este processo se arraste – como sempre – e que, no fim, se comece a falar insistentemente de prescrição de prazos, etc..

Preocupa-me o divórcio que existe entre a lei e alguns conceitos fundamentais: celeridade, eficiência, competência e bom senso.

Preocupa-me a não condenação explícita e exemplar de advogados que recorrem a expedientes que nada têm a ver com o apuramento da verdade, mas apenas com a necessidade de fazer arrastar os processos. Acredito sinceramente que o recurso a tais expedientes constitui atualmente uma percentagem fundamental do trabalho – e do apetitoso rendimento - de muitos advogados neste país… mas se calhar até estou enganado!

Quero casa e não consigo saber quanto vou pagar por mês

Bancos e Empréstimos - É terrivelmente simples:

Um cliente quer um empréstimo de uma certa quantia, a pagar num determinado número de anos, para comprar um bem qualquer (casa, carro, etc..). O banco estuda as condições do empréstimo, recolhendo a informação que julgar pertinente e propõe ao cliente um empréstimo com uma determinada taxa indexada à Euribor. Não há comissões de abertura, gestão, spreads, cartões de crédito que permitem baixar spreads mas que custam uma anuidade, ofertas disto ou daquilo, contratação de outros produtos e outras vigarices legais permitidas pela nossa classe política, que, por alguma razão, se mostra muito complacente em termos legislativos com tudo o que cheira a banco.

Assim, existiria uma taxa única que, indexada à Euribor, refletiria o valor mensal que o cliente teria de pagar. O cliente deveria, apenas, estar ciente de que esse valor mensal poderia variar em função da Euribor. Mas, pelo menos, asfixiar-se-iam os estratagemas a que os bancos recorrem para sacar desonestamente mais dinheiro aos clientes.

Outra vantagem é que seria fácil e direto ira a meia-dúzia de bancos e comparar diretamente qual o que oferecia o empréstimo mais favorável. É claro que ninguém no mundo das finanças quer sequer pensar na existência deste tipo de transparência. Os bancos utilizam milhares de nomenclaturas para que um serviço seja pago e repago inúmeras vezes: uma aldrabice ainda maior do que pagar impostos de impostos.

Caros políticos toca a legislar: só há um conceito que os bancos podem a presentar aos clientes: valor da taxa indexada à Euribor, logo, mensalidade real a pagar pelo cliente. O resto, será a livre concorrência de que tanto se fala e quer (ou seja, os bancos concorrem entre si e apresentam as taxas que entenderem... dentro de limites legais para não cairmos na situação da usura).

Esclarecimento necessário: Não sou de maneira nenhuma um especialista. Posso estar a cometer uma série de erros técnicos, mas penso que dá para perceber qual é a ideia!

God Help Us

Em três meses, houve um aumento de 4557 particulares que não conseguiram pagar o crédito à habitação (dados do Banco de Portugal) por razões que, naturalmente, têm a ver com o desemprego e a perda de rendimentos. No total, são já 140447 particulares nesta situação.

Há uma pergunta que não me sai da cabeça porque é horrivelmente perturbadora: Isto está a acontecer agora, neste momento. E então para 2012? Como será?

Venham lá as filhoses e tudo a que temos direito

Somos um país de sonhadores, líricos e, por uma mera coincidência desfavorável, andamos nas ruas da amargura.

Segundo um estudo da Deloitte, os portugueses preveem gastar em média 530€ no Natal que se avizinha.

Fazendo as contas, após um corte de 50% no subsídio de Natal (para quem duvide, este é o lado das receitas), o português tem a perspetiva de fazer um corte de 8% nos gastos.

Já os gregos, um pouco mais assustadiços do que nós – vá-se lá saber porquê – preveem cortar 22% nos gastos (319€ de gastos natalícios).

Porém, a realidade fria dos números mostra que há, ainda, outros países menos bafejados pela boa fortuna do que nós: são, por exemplo, os casos da Alemanha (440€ de gastos natalícios) e Holanda (260€ de gastos natalícios).

E ainda há gente neste país que pensa em emigrar… sinceramente!

And the Winner is: Lady Gaga

Lady Gaga foi a grande vencedora dos Prémios Europeus de Música da MTV: Melhor Artista Feminina, Melhor Vídeo, Melhor Canção e um 4º prémio por ser considerada a artista com mais fãs.
 
O comentário imediato não tem a ver diretamente com ela mas mais propriamente com a reação do "público" à sua volta: se eu percebesse alguma coisa de sociologia, com certeza que poderia utilizar cientificamente o primeiro parágrafo deste Post para explicar uma boa parte do descalabro que é o mundo em que hoje vivemos.

Relativamente à rapariga, há um único aspeto que, acredito, começa a tornar-se desagradável: o padrão monótono da esquisitisse forçada da indumentária.

Palavra que não sei dar resposta às seguintes questões: É a crise que provoca fenómenos destes ou são estes fenómenos que levam a crises? Porque é que tanta gente abdica da vontade de se aventurar na sua própria vida para mergulhar cegamente nestes mundos virtuais?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Magistrados e Advogados: as duas faces de uma moeda?


Gostei particularmente de um artigo – porque mostra números concretos – do Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, que desmascara os privilégios dos magistrados portugueses. Para tal, compara os vencimentos destes com os vencimentos médios nacionais. Concordo com esta metodologia pois entra em conta com o nível de vida e as capacidades económicas do próprio país.

Recorrendo a um estudo de 2010, conclui-se que os juízes portugueses em início de carreira auferiam, em 2008, cerca de 1,7 vezes o salário médio de Portugal. Desde Áustria e França (1,1 salários médios) até Bélgica e Dinamarca (1,6 salários médios) deixamos vários países para trás.

Quando nos referimos aos juízes em fim de carreira, a situação torna-se ainda mais gloriosa: no mesmo ano, ganharam o equivalente a 4,2 salários médios nacionais, o que permite bater nas calmas: Holanda e Dinamarca (2,3 salários médios), Áustria (2,6 salários médios), Islândia (2,7 salários médios), Suécia (3,2 salários médios), Noruega (3,2 salários médios), Luxemburgo (3,3 salários médios), Finlândia (3,3 salários médios), França (3,4 salários médios) e Bélgica (3,5 salários médios).

Somos ou não uns verdadeiros campeões da solidariedade?

Aguardo fervorosamente um artigo esclarecedor e visionário deste Bastonário que aponte cirurgicamente os erros das nossas leis que permitem o enriquecimento vergonhoso de advogados sem escrúpulos, à custa de um total desprezo pela verdade que, em princípio, deveria ser apurada.

Rewind 2: O Grande Passos Coelho

O PEC IV foi chumbado pela oposição na AR pelas 20h do dia 23 de Março de 2011 com severas críticas ao governo por parte da oposição. Embora os partidos da oposição não coincidissem manifestamente sobre as medidas contidas nesse pacote, coincidiram – todo o espectro político – no sentido da votação. Argumentos a reter para que se desse o chumbo:

A necessidade de mudança de rumo e da política.
O Partido socialista teve uma falha gravíssima ao apresentar o PEC 4 em Bruxelas sem a aprovação do parlamento.

O Primeiro-ministro e o Presidente da República reúnem-se durante 21 minutos no Palácio de Belém e José Sócrates apresenta a sua demissão.

Simultaneamente, a OCDE chamava a atenção para o stress que o chumbo do PEC 4 causaria nos mercados, afirmando que a queda do governo português traria uma grande crise política que afetaria todos os portugueses.

Voltemos atrás, a 11 de Março, antes da Cimeira de Líderes Europeus, O PEC IV foi apresentado em Portugal.

Num artigo do Povo Livre – meio  de comunicação Oficial do PSD - o presidente do PSD, refere-se que Pedro Passos Coelho, foi informado, num breve telefonema de Bruxelas, de José Sócrates, na quinta-feira à noite (10 de Março), que o Senhor Ministro das Finanças apresentaria no dia 11 de Março “estas medidas" (PEC 4).

Pedro Passos Coelho profere as seguintes palavras em Viana do Castelo no dia 12 de Março (que também estão registadas no Povo Livre):

"A oposição, reunida na véspera a discutir uma moção de censura no parlamento, não soube de nada. Eu próprio recebi um telefonema apenas na véspera a avisar que iam ser apresentas novas medidas de restrições. Os parceiros sociais que estiveram reunidos em concertação social com o Governo foram também surpreendidos". Acrescentou: "Não é normal em democracia o desprezo pelas instituições e pelas pessoas" que o Governo tem demonstrado neste processo. É uma falta de cultura democrática que temos que ultrapassar no futuro".

O tempo decorreu e muito foi dito sobre esta falta de respeito por parte do governo em informar quem quer que fosse.

A este propósito, Luís Filipe Menezes, escreveu um artigo no JN intitulado “Minto, logo existo”. Nesse mesmo artigo questionava: "Como é possível avançar com medidas tão gravosas e estruturais no dia seguinte ao debate e rejeição de uma moção de censura, sem ter dado uma pista, uma informação, uma indiciação aos deputados. Como é possível os partidos não terem sido formalmente chamados, cumprindo-se a formalidade mínima de avisar o líder da oposição através de um lacónico telefonema?"

Entretanto passou-se um mês desde a data do anúncio do PEC 4. A 11 de Abril, Pedro Passos Coelho é entrevistado por Judite de Sousa na TVI. Confrontado com a existência de uma reunião pessoal com José Sócrates, a pedido deste, e onde terá sido informado sobre as medidas do PEC 4 ao longo de 3 a 4 horas, engole em seco.

No programa Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, Pacheco Pereira quis saber o que teria acontecido nessa reunião entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho, um dia antes do primeiro-ministro apresentar o PEC 4 em Bruxelas. Considerou que “nada disto encaixa” e acrescentou “Nunca tinha recebido, nem ninguém no grupo parlamentar [do PSD], um SMS a dizer 'não façam nenhuma declaração sobre esta matéria', durante o dia da reunião europeia. E quanto à razão era para não prejudicar a negociação governamental, entre o Governo e Bruxelas, e não criar nenhum pretexto com qualquer declaração”.

Imagino que a conquista do poder só pode ser muito excitante, senão, como explicar este gigantesco e prolongado blackout ético?

Resultado: Alvo abatido e o resto é história.

Rewind 1: O Grande José Sócrates

Em 2007 um relatório do FMI alertava Portugal para algumas questões relevantes, partindo do princípio que os governantes de então eram pessoas idóneas e competentes. Nesse relatório alertava-se para a baixa produtividade, os défices da balança de transações correntes, a dívida do sector privado e a necessidade de ajustamentos significativos no mercado de trabalho. Em Janeiro de 2010 surgiram os mesmos alertas, sublinhando a urgência de resolver o problema.

Assim, e de acordo com o Diário Económico “O Governo de Sócrates foi avisado do rumo que a economia estava a tomar em devido tempo. E além de não ter evitado o desfecho atual, o Executivo tentou rebater os alertas que foram sendo emitidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).”

Parece que o nosso primeiro-ministro de então estava essencialmente preocupado em arranjar telefones secretos para poder conversar mais à vontade com o caro amigo Armando Vara, cujo enriquecimento pessoal é digno de genialidade.

Ok! É um tema deslocado, mas lembrei-me disto a propósito do Processo Face Oculta. Esse, sim, está aí, atualíssimo - e com tantas figuras que fazem lembrar os vilões da Marvel - que não resisti a recuar no tempo!

Finalmente, para quem acha que há limites ao desvario neste neste país, vejam bem o processo em que eram transcritas escutas que envolviam o "saudoso" José Sócrates:

http://www.youtube.com/watch?v=AvHNbDL4Lvs

sábado, 5 de novembro de 2011

Há coisas que não batem certo no "orçamento sem alternativa"

O constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia proferiu algumas afirmações sobre a eventual suspensão dos subsídios de férias e de Natal, conforme prevê o orçamento de estado para 2012. Pela lógica sólida que encontrei nas suas palavras, resumo aqui alguns dos seus raciocínios:

A suspensão dos subsídios de Natal e de férias é um encargo nacional, no entanto dirige-se apenas a alguns: os funcionários públicos, sendo, pois, obviamente inconstitucional.

O governo pretende resolver um problema de financiamento aplicando um imposto disfarçado apenas a uma parte dos trabalhadores. Ainda por cima de forma cega: não há qualquer distinção entre bons e maus trabalhadores.

O governo argumenta que a função pública ganha mais do que a função privada. Não conheço nenhuma métrica verdadeiramente fiável que suporte esta afirmação, mas a argumentação de Jorge Bacelar Gouveia parece-me interessantíssima: “Há profissões na função pública que não existem na função privada. Não há juízes, militares e polícias privados”. Estamos então a comparar o quê?

Além do mais o argumento da diferença salarial é contraditório: alega-se um desnível de vencimentos que é estrutural (permanente) para resolver um problema conjuntural, que é o período de aplicação da suspensão dos subsídios: Com o regresso dos subsídios de Natal e de férias voltaríamos, alegremente, a assumir a discriminação que favoreceria novamente a função pública.

A sucessão partidária é apenas um padrão: Já demonstrou não ser a solução

José Sócrates foi-se.
George Papandreou prepara a sua demissão (diz-se).
Zapatero seguir-se-á.
Itália sai à rua para pedir a demissão de Berlusconi.
Segundo as sondagens, tanto Sarcozy como Merkel preparam-se para fazer parte da história.

A minha questão, muito simples, não tem a ver com os políticos mencionados mas sim com aqueles que já ocupam ou se veem a ocupar os cargos deixados vagos: acreditam eles que a continuar as políticas medíocres que nos trouxeram até aqui conseguirão ter um destino diferente dos seus antecessores? E, no entanto, as políticas dos sucessores são precisamente as mesmas – moldar os respetivos países de forma a se adequarem a mercado acéfalos e insaciáveis. Deverão, os sucessores, pensar muito bem se o negócio de ser escorraçado da política será indefinidamente lucrativo pois, até isso, o povo vai começar a compreender e a agir para que se acabe com este comportamento vergonhoso que faz enriquecer ex-políticos apenas porque leis corruptas, feitas pelos mesmos, o permitem.

Para restringir o meu exemplo tomemos o caso do nosso país: Um líder da oposição recusa-se a aceitar a criação de mais impostos e sacrifícios às pessoas. A oposição vota unanimemente o chumbo do PEC 4, sabendo, de antemão , que isso conduziria à queda do governo. Há eleições e o líder da oposição torna-se primeiro-ministro. O que acontece? A política muda? Pelo contrário, verifica-se um embuste total. A carga fiscal sobre as pessoas torna-se mais pesada e os sacrifícios aumentam duma forma nunca antes vista. Então o que motivou o atual primeiro-ministro a agir da forma que agiu enquanto líder da oposição. Só resta a hipótese da existência dum motivo pouco nobre, o que, novamente vai de encontro ao que tenho observado na já “longa” sucessão de cargos políticos no nosso país.

Mudam os nomes, as políticas são as mesmas e, perdoem a repetição, os dirigentes políticos limitam-se a adequar os seus países aos mercados: acéfalos e insaciáveis. Ao conseguirem este objetivo, são vistos como políticos / gestores competentes, os seus países encaixam nos parâmetros do progresso e o resultado final é uma fotografia bonita; um instantâneo que não tardará, todavia, a empalidecer. Não é usual questionar que conceito de sucesso é este cuja essência assenta em mercados onde a dignidade do elemento humano é um aspeto totalmente descabido. Fundamentalmente, as políticas das caras novas são as mesmas desde há décadas. A diferença talvez surja na escala: os mercados e as imensas riquezas cresceram; encontram mecanismos mais sofisticados de criar fortunas sem ser necessário produzir rigorosamente nada. E é na adequação a este ambiente doentio que se mede o sucesso de cada país, de cada líder político.

O paradigma atual (efetivamente já é muito velho e está totalmente esgotado) - uma mera sucessão de caras e cores partidárias - não levará a nada de bom como hoje em dia se comprova com os resultados qualitativos e quantitativos obtidos. É preciso um novo paradigma, uma nova forma de abordar a sociedade humana e a relação entre as várias nações. Sem essa capacidade de inovar, as nossas sociedades manter-se-ão na era do preto e branco.

Jurisprudência e Decência: Rimas de costas voltadas

Imaginemos que eu vou a conduzir calmamente e deparo-me com um carro estacionado numa curva onde não tenho visibilidade. O que fazer? Normalmente, reduzo a velocidade ao mínimo, passo ao lado desse carro e espero que não venha outro lançado em sentido contrário.

Continuemos o nosso exercício de construção de cenários possíveis: Imaginemos que, por azar, vem mesmo um carro em sentido contrário e enfaixamo-nos de frente. Quem é o culpado?

Eu. Limpinho, sem espinha! E o malandro que tinha o carro estacionado em plena curva? Eventualmente pagará uma multa por ter o carro mal estacionado. O tribunal não é sensível ao fato de eu não ter outra hipótese para passar nesse troço.

De acordo com o princípio da jurisprudência, os tribunais deveriam seguir obrigatoriamente esta “regra”… certa ou errada!

Tomemos, por exemplo, o caso do malandro que incorre num crime (representa o condutor que saiu fora de mão, com a agravante de, neste caso, não ser obrigado a tal!). Entretanto, a prova do crime fica registada numa escuta… infelizmente ilegal (é o carro mal estacionado na curva). O que decide o tribunal? Anula o julgamento porque a escuta é ilegal. Mesmo que nesta haja a confissão direta do crime. Afinal, onde está a jurisprudência? Sim, o que deveria acontecer era multar o indivíduo que fez a escuta de forma ilegal. Após a audição da escuta e provado que o criminoso era-o de fato, seria devidamente condenado: tal como no caso rodoviário. Mas, como em muitas áreas da justiça, a jurisprudência é um mecanismo de utilização seletiva pois, habitualmente, os crimes que se conseguiriam provar com escutas ilegais, envolvem, estranhamente, personalidades estratosféricas e não gente comum.

Terminemos aqui este assunto e suponhamos que o que se segue nada tem a ver com o conteúdo anterior.

Paulo Penedos, um dos arguidos no processo Face Oculta, requereu a nulidade da decisão do presidente do Supremo Tribunal de Justiça - Noronha do Nascimento - exigindo conhecer o conteúdo das escutas telefónicas depositadas no Tribunal de Ovar. Assim, o Tribunal Constitucional vai pronunciar-se sobre a posição de Noronha do Nascimento, que defendeu que a sua decisão em destruir as tais escutas - envolvendo José Sócrates e Armando Vara - não poderia ser posta em causa.

Lembrete: uma vez que as escutas envolviam o primeiro-ministro, teriam de verificar um conjunto de requisitos para poderem ser validadas. Esses requisitos não terão sido estritamente verificados.

E, nesta sequência, termino com mais uma daquelas informações que fazem com que o povo português seja dos mais depressivos do planeta – o contrário é que seria milagre:

É que a Justiça voltou ao nosso caro amigo Armando Vara (também um dos homens do processo Face Oculta): consta das suas declarações em 2008 e em 2009 um milhão e 500 mil euros de rendimentos – por partes: um milhão e 200 mil são salários como trabalhador dependente (administrador do BCP, Ah Ah Ah) e … como pensionista, que é (Portugal no seu melhor).
Para perfazer o valor declarado, houve uns incrementos patrimoniais e umas entradas de cash, aqui e ali. Nada de muito importante. Houve, além disso, umas saídas em jeito de malabarismo, que fazem suspeitar existência de crime.

Em modo de conclusão, a diferença entre os rendimentos auferidos por Armando Vara e o que entrou nas suas contas bancárias, em 2008 e 2009, corresponde a 800 mil euros não declarados ao Estado. Em condições normais este palpável diferencial deveria obrigar o senhor a responder pelos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Não estou totalmente convencido de que as coisas venham a ser assim na prática.

Quanto ao nosso saudoso Ex-Primeiro-Ministro, Sócrates, é como digo: só no caso rodoviário quem sai da sua faixa é que leva com a culpa pelo acidente.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quero lá saber de vocês. O meu negócio é Euros!

(Fonte JN)


“O ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, exigiu, esta sexta-feira, "uma decisão fiável" da Grécia sobre a sua permanência na zona euro (…)”.


Para início de conversa devo fazer uma espécie de declaração de interesses: Não gosto deste ministro alemão das finanças. Não entendam, por aplicação de raciocínio elementar, que estou a defender as salgalhadas que os gregos andam a fazer. Trata-se, simplesmente, duma questão “parapsicológica”: acredito que o indivíduo tem um astral muito pouco favorável. Ou, se calhar, é mais básico do que isso, não gosto de pessoas cujo nome é virtualmente impossível de pronunciar.


A verdade é que o homem falou e falou e, só depois de refletir um pouco, é que percebi que ele não enviou nenhuma mensagem à Grécia. Nada de positivo. Limitou-se a atirar frases em tom ameaçador para que a malta, em geral, ouvisse bem. Eis algumas dessas frases, num discurso onde a ambiguidade não tem lugar:


“Os acordos que a Grécia tem de cumprir não podem ser alterados, a Grécia tem de estar disposta a aplicá-los”. Aqui concordo. Assinou, cumpre.


“Caso Atenas não adote as decisões da cimeira de líderes da zona euro de 27 de Outubro, tem de se encontrar uma forma de evitar riscos de contágio para o euro”. Também aqui tem razão, embora já mostre bem qual é a sua verdadeira preocupação.


“Quem não quiser aplicar as decisões da semana passada, tem de suportar as consequências”. Isto dito por outras palavras soaria mais ou menos assim: se fosse filho meu levava já dois chapadões.


Como disse, não aprecio o senhor, mas concordo no essencial com o que disse. Então qual é a questão? O meu desacordo prende-se mais com o tom; o “savoir faire”; o entender que estamos muito mal mas que não é rosnando que lá vamos; o convencimento pessoal de que no seu país se trabalha e as contas estão equilibradas, enquanto os outros são uns malandros que nada fazem e gastam muito – esquece-se, porventura cirurgicamente, de que os tais malandros é que andaram a comprar o que eles produzem e, portanto, a enriquecê-los. Até Portugal, também na penúria, comprou-lhes dois submarinos – só que, neste caso, a eficiência alemã passou ligeiramente ao lado, pois os ditos (ou foi só um?) já vinham meio enguiçados antes mesmo de serem usados. Chama-se a isto, literalmente, meter água.


Note-se que o primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, já se mostrou disposto a retirar a sua proposta de referendo (causadora da tempestade mais imbecil de que há memória). Também recusou a marcação de eleições antecipadas, considerando a decisão “uma catástrofe”. Ou seja, os alemães puxaram-lhe as orelhas – lá está, o ministro alemão não me agrada mas não falha (aqui funcionou a tal eficiência alemã) – o grego arrepiou caminho mas, à boa maneira do político típico, recusa-se a largar aquele cargo pelo qual nutre um amor tão profundo (esquecendo-se, porém, de que a asneirada que fez é merecedora de irradiação definitiva… isto se a Grécia funcionasse, mas os últimos balanços dizem precisamente o contrário).

Família Versus Estado

Num artigo do “Dinheiro Vivo “ formula-se a seguinte pergunta: “IRS em 2012: Compensa estar casado? Ou nem por isso?”

Não sendo eu um conselheiro matrimonial – afirmação que faço com a mais profunda e sentida convicção – deixo-vos apenas alguns aspetos qualitativos e quantitativos deste artigo:

Os casados têm direito a metade dos abatimentos de IRS do que os que vivem em união de facto (os que abdicaram do padre e do funcionário do tribunal e etc..), vulgo “juntos”: A apresentação separada de declarações de rendimentos é muito compensadora. Como se não bastasse, o Orçamento de Estado para 2012 irá aprofundar as diferenças entre casados e “descasados”. Para rendimentos semelhantes, um casal em união de facto que apresente declarações de rendimentos separadas pode conseguir o dobro das deduções à coleta e benefícios fiscais relativamente a um casal “de papel passado”. Finalmente, a diferença pode ser agravada se no meio do tornado surgirem criancinhas.

Conclusão: É fatual que o estado apresenta um comportamento punitivo, quase mercenário, para casados. Um dos aspetos curiosos deste comportamento estatal é que nada tem a ver com a sensibilidade dos governantes sobre o próprio assunto: ou porque andam distraídos ou porque a sensibilidade não é um dos seus pontos fortes.

Ora, em tempos de crise convém pensar bem se vamos ou, melhor ainda, se temos verba para gastar. Assim, a questão do casamento, de acordo com a cartilha estatal, não deve ser vista numa perspetiva “tradicional” mas, antes, como quem encara um balanço empresarial favorável.

É nesta perspetiva que alerto para algumas das desvantagens do casamento:

Despesas associadas ao ritual do noivado ou, doutro modo, prendas e prendinhas, surpresas, etc..

Despesas “processuais” iniciais (padres, igrejas, funcionários de tribunais, etc..).

Festa de casamento, porque não é habitual pedir à malta que cada um leve uns refrigerantes, bolos, salgadinhos e outras coisas do género.

Aumento exponencial de prendas em ocasiões festivas as quais, por sua vez, também aumentam exponencialmente (não esquecer que, e isto é dos livros, um casamento nunca é feito entre duas pessoas; na realidade há uma multidão envolvida: sobrinhos(as), primos(as), tios(as), sogros(as) e a lista pode ser penosamente interminável).

Perda de deduções à coleta e benefícios fiscais que aumentam acentuadamente a probabilidade de depressão profunda, o que, por sua vez, leva a situações de desarmonia do casal e que fazem com que os cônjuges pensem muitas vezes onde é que estavam com a cabeça quando disseram que era para sempre… nos bons e nos maus momentos!

Depois de enumerar algumas desvantagens, assim mais evidentes, associadas ao casamento “tradicional” poderia, por uma questão de imparcialidade, listar algumas das vantagens. O problema é que, assim à primeira, não me ocorre mesmo nada; por isso termino por aqui, relembrando apenas: há que fazer bem as contas em tempos de crise e não tomar decisões precipitadas afinal, como dizia um spot publicitário já bem antiguinho, “A tradição já não é o que era”!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Portugal atinge mínimos (Históricos e não Olímpicos)

As vendas de carros novos atingiram valores mínimos em 23 anos. Gostaria que esta fosse uma consequência da atitude inteligente dos portugueses: comprar português. Embora suspeite que isto se deva, essencialmente, à falta de dinheiro...

A propósito disto, e porque o português tem a mania que é finório e tem estilo, lembram-se (bem sei que já foi há muito tempo) das motas portuguesas? Sim, fabricávamos motas. Por vezes ainda vejo uma ou outra a passar por aí! Porque é que não continuámos? Porque é que não melhorámos a qualidade? Talvez hoje soubéssemos fazer motas bem interessantes e em vez de importar esávamos a comprar e usar o que era nosso... mas, o problema foi precisamente esse: mota portuguesa? isso é só para os parolos! Olhó parolo, tem uma Famel; eu cá tenho uma Honda!

Nisto, como em tantas outras coisas, está aí o resultado. Importámos, comprámos feito; hoje não sabemos fazer nada, somos ignorantes. Cheios de estilo e pinta e na penúria.

Renegociar ou reajustar: Afinal onde pára o dinheiro?

O Presidente Cavaco Silva espera que haja abertura por parte da troika para reajustar o resgate a Portugal. Disse-o com pinças, uma vez que se posicionou da seguinte forma: recusou a hipótese do acordo com a 'troika' ser renegociado. Isto é, reajustado sim, renegociado não. Este cuidado extremo com a aplicação dos termos torna-se evidente se nos lembrarmos das posições de “alguns” partidos de esquerda. E a pior coisa que pode acontecer ao nosso Presidente é ser confundido "com aqueles tipos".

Apontou a problemática falta de recursos dos bancos para satisfazerem os pedidos de apoio financeiro às empresas privadas. Neste caso, embora compreenda e concorde com a questão – a ser verdade – surge-me uma dúvida: então e os incontáveis testes de stress realizados aos bancos portugueses e que demonstraram que as coisas corriam sobre rodas… afinal, para que serviu tudo isso? Que utilidade tiveram se os bancos não têm, a fazer fé no que agora é dito, capacidade para fazer a principal coisa que deveriam saber fazer na vida: emprestar dinheiro?

Esta medida é mesmo necessária para a resolução dos problemas da nação?

Segundo Pedro Nuno Santos (PS) o governo procedeu a uma alteração das regras de tributação de distribuição de dividendos aplicadas a participadas de SGPS (Sociedades Gestoras de Participações Sociais) que beneficiam as grandes empresas, as SGPS e os grandes detentores de capital do nosso país. Sei lá porquê, tenho um vago pressentimento de que vão aparecer por aí uns BMWs novos.

Isto foi acordado com a Troika de que se tem ouvido falar ou com uma outra qualquer, das que sempre andaram por aí e conseguem uns acordos govenamentais suculentos?

Euro: preso por ter cão e preso por não ter!

A UBS AG é uma empresa de serviços financeiros. No fundo é um banco privado e um banco de investimentos. Entre outras atividades gere fortunas na Suíça. Exemplo: gere a fortuna de cerca de metade dos bilionários asiáticos. Conseguem entender? Alcançar a dimensão?

Vai daí que, embora sejam um pouco imprevisíveis as consequências da saída dum país da Zona Euro, o UBS – ao qual já percebemos que não lhe falta cash – deu-se ao trabalho de fazer umas continhas (a fonte original da notícia que se segue é o Diário Económico):

Um país economicamente enfraquecido – Exemplos meramente académicos: Grécia ou Portugal - ao abandonar a nossa querida moeda única, teria de suportar um custo entre os 9500€ e 11500€ por pessoa no primeiro ano (qualquer coisa como entre 792€ e 958€ por mês). Os custos anuais seguintes situam-se entre os 3000€ e os 4000€ por pessoa. Donde se conclui que ao sairmos da moeda única só no resta, como modo de vida, a zona inferior das várias pontes existentes no país.

Assim, o UBS concluiu que abandonar a zona euro é "muito caro e difícil". Gostaria de saber quantos milhões terão gasto para chegar a esta inusitada conclusão! Mas como já ficou claro, dinheiro não é problema (porque é que esta expressão parece tão estranha?).

Além disso, legalmente, o Tratado de Lisboa admite a possibilidade de um país negociar a sua saída da União Europeia, mas não da moeda única. O vice-versa é que parece não estar contemplado, isto é, abandona a moeda logo é votado ao ostracismo. Desaparece. A União vira-lhe as costas. Não sei se será bem assim…

Já que falamos em virar as costas, convém também lembrar que todo o Europeu que se preze tem vivido estes anos todos assim meio de lado para qualquer um dos seus vizinhos. O abraço Europeu é um conceito que se situa mais na área da ficção científica. A questão é que cada um de nós pensa – mas não diz, evidentemente - que os países vizinhos são meios esquisitos, têm uns hábitos tendencialmente aparvalhados, há qualquer coisa que não bate certo com essa gente. Nós é que somos os normais no meio desta malta toda… talvez pior do que isso, é a verdadeira clivagem entre ricos e pobres que, segundo os pobres resulta do embuste, premeditado, criado pelos ricos (cuja única e verdadeira intenção foi a expedição dos seus produtos) e segundo os ricos deve-se a que os outros não passam de um bando de preguiçosos, gastadores e gestores de capacidade nula. Deve ser por isso que um político alemão, que não faço questão de pesquisar quem é, sugeriu qualquer coisa como colocar as bandeiras dos países devedores a meia haste. Um pouco irritante este homenzinho. Se não fosse a maldade implícita, não me teria esforçado explicitamente para afastar de mim o pensamento de que isto seria uma reminiscência das marcações feitas aos Judeus no outro regime. Enfim, é de toda esta lamentável e sempre desavinda Europa de que falamos.

Há ainda uma outra situação perversa: é que a dívida do país manter-se-ia em euros, enquanto os seus ativos passariam a ser contabilizados naturalmente na moeda nacional. Ora, por estas alturas, com uma moeda tão desvalorizada, nem que produzíssemos o dobro dos chineses pagaríamos a dívida. Acrescentemos a isto que a exportação para os ex-colegas europeus tornar-se-ia muito mais complicada por uma mera razão de antipatias recentemente criadas.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Contas da ONU para português ver

Portugal foi considerado pela ONU o 41º país mais desenvolvido entre 187 países estudados pelo Relatório para o Desenvolvimento Humano das Nações Unidas e que foi hoje divulgado. Tanto a Grécia (essa mesmo, a do vulcão em plena atividade) como a Hungria são países considerados semelhantes (?) a Portugal. Este esclarecedor relatório mostra inequivocamente (desculpem lá os que têm vergonha de dizer ou necessitam esconder) a desgraça de sociedade humana que criamos neste planeta capitalista e globalizado.

Para chegarmos a esta posição foram considerados fatores como a esperança de vida (Ok), a escolaridade (?) ou o rendimento nacional bruto por pessoa (só pode ser piada de MUITO mau gosto).

Quando comparado com o ano passado, Portugal desce de 40º para 41º, mas o número de países que integram a tabela aumentou de 169 para 187 (venha daí a discussão: mérito ou desmérito? de Sócrates ou de Passos?).

Nos últimos 30 anos, entre outras coisas, o rendimento nacional bruto por pessoa cresceu 76% (isto já parece os encravanços dos nossos orçamentos de estado – então e a inflação subiu quanto?)

Outra conclusão que tem dado que pensar aos mais atentos é a questão da esperança de vida na Grécia ser superior à de Portugal. Será por essa diferença mínima – inferior a seis meses – que os políticos passa a vida a insistir que “Não somos como a Grécia”. Mas não, a verdade é que os gregos ganham mais que os portugueses! Mas, claro está, não somos os piores: na realidade, se não fosse este valioso e esclarecedor relatório muita gente estaria convencida – por uma questão de experiência pessoal - que éramos o povo mais mal pago da Zona Euro e das outras zonas todas.

Dos 3 países “semelhantes”, Portugal surge na cauda no que respeita a escolaridade média. Não é possível fazer um estudo sério, de base científica, para compreender melhor esta questão? Sei lá, descobrir fundamentadamente se o português tem algum gene esquisito, meio torto… é que isto não pode ser só coincidência! Estamos sempre na cauda quando se fazem estas comparações: Língua materna, uma lástima; Matemática, uma vergonha… o português “não tem cabeça para os estudos” e por isso abandona?

Quanto à língua materna sugiro o seguinte: Não um acordo, mas uma revolução ortográfica total, feita por gente com raciocínio lógico normalmente funcional e não pelos artistas de sempre. Ok! Caiam-me em cima à vontade… a verdade é que já não suporto ver torturar as criancinhas com a miserável ortografia da nossa língua: uma mesma letra pode valer tudo e mais alguma coisa, as regras são imensas, embora não tantas quanto as exceções às regras. Enfim, está montado o circo que faz com que se possa ler corretamente uma palavra que, no entanto, assombrosamente, está mal escrita… e as pobres criancinhas não percebem porquê... se quando a lemos está bem… mas enfim, o raciocínio não é definitivamente para aqui chamado – também não parece ser o ponto forte do português.

Já alguém se perguntou porque é que os Finlandeses brilham sempre – usualmente nos primeiros lugares – nos índices internacionais de escrita da língua materna? De forma muito simplista, é uma língua em que o grau de coincidência entre as formas escrita e falada é elevado? Assim, dá para perceber, não?

Mas o português prefere passar anos e anos a substituir a aprendizagem de conteúdos interessantes e que poderiam despertar a curiosidade no cérebro das crianças pelas infinitas repetições – a que damos o nome de ditados – até que a absurda forma escrita comece a entrar na cabeça. Quando isso acontece, já a criançada está mais do que farta e acredita, pela traumatizante experiência vivida, que estudar é isso mesmo...

Desculpem-me, uma vez mais, mas facilitaria que a língua fosse “tendencialmente” um código. Uma vez aprendido saber-se-ia escrever. Estou a falar estritamente de ortografia.

Prosseguindo com o relatório da ONU: Sempre com base nos 3 maravilhosos países, estamos consideravelmente à frente no que respeita às desigualdades… imaginem só o que será depois do Orçamento de Estado de 2012. Vamos dar uma vela à China (será que já estamos à frente deles? Confesso a minha ignorância… mas como isto está, tudo é possível). De todos os países constantes do estudo estamos em 19º lugar. Aqui está, em números concretos, a vergonha social que representa este país e que resulta da caldeirada entre poderes políticos, financeiros e (in)justiça (a tal a quem roubaram um dos pratos da balança… há já muito tempo): tudo muito bem untado em corrupção (afinal personificamos melhor que ninguém o país do senhor Cunha).

Entre vários outros índices, Portugal volta a bater os seus pares no número de mães solteiras. Pelo que devo deduzir que a sede de ir ao pote sem estar preparado não é uma caraterística exclusiva do político português. Também neste caso deverá andar por aí um gene tipicamente português.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Alguém viu por aí a Europa?

Atenas prevê avançar com um referendo sobre 2º pacote de resgate. Resultado: Reanimação – nos benditos mercados – do espectro do risco de bancarrota de 8 (OITO) países na Zona Euro.

Se isto não fosse uma notícia real dir-se-ia que era uma chalaça. Qualquer coisa do género, mundos virtuais, Second Life, … Whatever!

Estou piamente descrente da citada Zona. Já só acredito naqueles – economistas (?) - que dizem que temos de largar esta malfadada moeda: começar a produzir o que nos recusámos nas últimas décadas e parar importar com dinheiro que não era nosso.

Ok! Confesso que não sei se esta é uma grande solução mas, simultaneamente, confesso que sei que todos os dias surgem notícias deste tipo e que só conseguem demonstrar o caos que o espaço Europeu tão bem e impotentemente personifica. Ora, sendo assim, temos de admitir, pelo menos, que há a tentação de fugir desta coisa – manta de retalhos - com mau aspeto que dá, erroneamente, pelo nome de União Europeia. E o pior é que se pensarmos em quem são os líderes da tal “União”, a vontade de fuga aumenta exponencialmente.

Bastava-nos uma Democracia

Vem esta questão a propósito do Post anterior em que defendi ser uma injustiça as subvenções vitalícias de ex-políticos, independentemente de estarem ou não no ativo.

Ora, a métrica para levar alguma justiça a estes casos foi revista pelos nossos governantes:

As indemnizações por despedimento passam, a partir desta terça-feira, de 30 para 20 dias com um tecto máximo de 12 salários.

Assim, depreende-se que a existência de tectos é um conceito trivialmente aplicável… mas apenas para alguns – o que significa que, uma vez mais, os políticos, os mercados (os seus temerários intervenientes) e a ambição desmedida, bem doseada pelas duas partes, apenas admite certos conceitos para os mais fracos e expostos (novamente a velha história de ser forte… com os fracos).

O que é que tudo isto tem a ver com ex-políticos com subvenções vitalícias? Atendendo a que é uma situação que se reveste de especial injustiça social gritante, os atuais políticos poderiam aplicar esta métrica – 20 dias por ano até um máximo de 12 salários para aqueles que estivessem efetivamente desempregados. Depois disso, é tratar de vida, como qualquer português…

Ainda assim poder-se-á invocar a ilegalidade da aplicação de tal regra a ex-políticos uma vez que não tem efeitos retroativos. Existem, porém, dois aspetos preponderantes que aconselhariam anular, com efeitos imediatos, as subvenções dos ex-políticos que já tivessem excedido os “12 salários”: o primeiro seria acabar com uma regalia socialmente digna de ignomínia – tanto para os que criaram tal regra, como para os que dela pacificamente beneficiam. Em segundo lugar, os trabalhadores portugueses estão objetivamente confrontados com a eliminação concreta de privilégios adquiridos (por exemplo, a perda, pura e simples de 2 dos 14 meses de ordenado). Novamente, invocando, então, a injustiça da atual situação e a perda de direitos que hoje é implementada em nome da crise, acabem lá com todas as subvenções vitalícias. Os ex-políticos que recebam os subsídios de desemprego nos moldes de qualquer outro cidadão português.

A existência de leis privilegiando uns grupos em detrimento de outros, para os quais a legislação é acentuadamente mais dura, é a prova cabal de que não vivemos numa democracia. As democracias como tal não existem. Restrinjo-me ao meu país, mas o conceito é espontaneamente generalizável: Hoje em dia somos dominados por pequenos grupos de pessoas (as elites de 2 ou 3 partidos) que gerem a nação, emitindo discursos com mensagens de competitividade ou necessidade de resolução de problemas graves – em função do ciclo económico – mas cuja verdadeira ação visa, apenas, ajustar a existência do próprio país às regras de mercados poderosíssimos onde a ética é explícita e diariamente ridicularizada, sendo que, para isso, sacrificam todos aqueles que não têm poder de decisão (o voto representa 1%, se tanto, da capacidade de decisão popular numa verdadeira democracia) e salvaguardam-se a si próprios pois, sabendo que cedo ou tarde serão banidos pelo povo, criam as condições legais (embora, naturalmente imorais), para que possam singrar no período pós-político… atribuem-se cargos altamente remunerados em empresas tuteladas pelo ou com forte ligação ao próprio estado, blindando-se com indemnizações astronómicas no caso de despedimento.

Apesar de confessar a minha dificuldade em conceber de forma razoavelmente completa uma democracia eficaz, acredito profundamente que Portugal não o é. Somos um país em que a governação não obedece a princípios de eficiência, otimização e equilíbrio. Somos um país em que os governantes se decidem em corredores a que muito poucos têm acesso; e os mais espertalhões em conversas de corredor muito improvavelmente serão os mais aptos para gerir com acerto a nação: mas serão estes os governantes que teremos, uns após os outros. Acredito que este raciocínio é significativamente generalizável ao mundo em que vivemos.

As democracias necessitam, atualmente, de um salto qualitativo muito importante, de forma a subjugar interesses de mercado e financeiros aos conceitos de qualidade de vida e maior igualdade.

Termino com uma referência da Wikipédia sobre a democracia romana: “As assembleias populares (…) eram locais de discussão política e deliberação. Todos os cidadãos romanos podiam participar delas e votar. Nessas assembleias, os votos eram contabilizados por grupos; por exemplo, na assembleia centuriata, os romanos votavam em grupos diferenciados por propriedade, o que garantia que os ricos tivessem mais poder de decisão que os pobres.”

Finalmente, apesar de todos os cidadãos romanos poderem votar, nem todos eram considerados cidadãos romanos.