Número total de visualizações de páginas

domingo, 16 de outubro de 2011

Venha daí um mundo novo. Este de pouco serve.

Na Madeira, o CDS irá propor um pacote de “moralização” no início da legislatura, tendo em vista a extinção de regalias. Ora, sem conhecer rigorosamente nada sobre o conteúdo de tal pacote, parece-me evidente que a ideia de extinção de regalias é um dos aspetos necessários – embora não suficientes – para o início de um novo paradigma: Mudar radicalmente o mundo político-económico tal como o conhecemos e tomar como questões principais aspetos até agora ignorados.

E comecei com este exemplo – poderia ser outro qualquer - simplesmente para poder explanar um pouco do que efetivamente tenho em mente:

Penso que o foco da governação passará por substituir o paradigma do enriquecimento de acionistas de poderosas empresas – forma de governo mundial vigente – e otimizar os conceitos de autossustentabilidade, equidade, responsabilização na gestão de recursos que, como qualquer manual elementar de economia refere, são escassos. Assim, a extinção de regalias e a moralização surgem como palavras muito marcantes de um novo discurso, de uma nova forma de pensar e agir.

O paradigma atual trouxe-nos a isto: um mundo em que, a cada segundo que passa, morrem crianças/adultos de fome, há trabalho escravo, a competitividade – um dos chavões mais hipócritas que anda na boca de quase todos os políticos - é levada ao extremo (para além da capacidade e vocação humanas) pois, o que se passa é que, na realidade, é preciso alimentar os rendimentos imorais de poderosíssimos acionistas… um mundo em que, em geral, a vida humana é um verdadeiro sacrifício, para que, em muito poucos casos, o luxo possa acontecer em doses sórdidas. Tudo isto polvilhado com mecanismos vergonhosos de especulação financeira mundial onde nada se faz nem produz e muito se lucra.

Bem, poder-se-á dizer que todo este discurso é utópico, mais, esquizofrénico… a questão básica é: será possível mudar o atual estado de coisas atendendo à proporção que estes poderes atingiram neste mundo globalizado? Há algum tipo de poder que consiga combater e destituir os poderes instalados (na realidade uma questão tão antiga)? Não sei. Mas, por outro lado, sei que em alguns países árabes, liderados por ditadores rodeados de exércitos altamente repressivos… os regimes caíram, afundaram-se os tais poderosíssimos, riquíssimos e intocáveis líderes e os paradigmas mudaram, literalmente, de um dia para o outro. Sim, foi possível.

Não vou aqui comparar as situações dos regimes totalitários citados com o mundo “teoricamente” civilizado. A necessidade de mudança neste “outro” mundo também é de outro tipo, menos básica, talvez… mas sei que é possível acontecerem coisas de dimensão impensada de um dia para o outro: seria de uma ignorância atroz ignorarmos a história e alguns dos seus exemplos / ensinamentos!

Durante muito anos funcionou um regime comunista, utópico, poderosíssimo, que, de um dia para o outro, caiu ao ritmo de machadadas num muro, em Berlim.

No entanto, o lado perverso desse momento, foi utilizar um raciocínio que, digamos, matematicamente é totalmente incorreto: o facto de se ter posto em evidência o erro daquele regime, nunca poderia ter como consequência a validação dos “regimes” do mundo ocidental, isto é, o erro de um método não implica a validade de um outro.

Acredito, da mesma forma que acreditei na utopia do comunismo, na utopia dos capitalismos, dos mercados livres, das ideias que defendem que a autorregulação de mercados é o método mais eficiente para a coexistência mundial. E acredito que esta utopia acabou por ser muito mais perniciosa… pois, por se acreditar nela, persistiu no tempo, degradou-se, amplificou os erros e as distorções e trouxe-nos a um mundo indiscutivelmente injusto: hoje não vivemos em mercados-livre; a melhor definição para o panorama atual é o mundo das dívidas soberanas: Todos, ricos e pobres, devem a toda a gente. É de elementar bom senso afirmar que isto tem mesmo de mudar… e se não for por nós, que reste pelo menos um sentido humanitário suficiente, por exemplo, em forma de amor aos nossos filhos, de forma a tentarmos apresentar-lhes um mundo mais justo e, logo, radicalmente diferente daquilo presentemente temos para lhes oferecer: Multinacionais que condicionam e asfixiam países e povos inteiros, ditam regras, manietam e compram os dirigentes políticos do mundo inteiro, esvaziam cegamente os recursos naturais em nome… de balanços favoráveis para um reduzido número de acionista que vivem num invólucro de luxo que ultrapassa a imaginação mais delirante.

Há que focar essencialmente a atenção na otimização dum mundo moderno, em que se pense e concretizem medidas que melhorem, de facto, a qualidade do habitat em que vivemos e da vida dos seus habitantes. Precisamos de fazer contas equilibradas de ganho / despesa. Precisamos de responsabilizar todos os que gerem e não respeitam estas contas simples. Precisamos de recriar uma justiça rápida que não sirva os mais poderosos e extirpe, do seu próprio organismo, os mecanismos que permitem a riqueza imoral de advogados conseguida na defesa vitoriosa de causas notoriamente imorais. Precisamos de menos leis e mais justiça, de um bálsamo que nos acalme a revolta causada pela impunidade dos poderosos… que contrasta, vergonhosamente, com a opressão dos que não o são.