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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quero lá saber de vocês. O meu negócio é Euros!

(Fonte JN)


“O ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, exigiu, esta sexta-feira, "uma decisão fiável" da Grécia sobre a sua permanência na zona euro (…)”.


Para início de conversa devo fazer uma espécie de declaração de interesses: Não gosto deste ministro alemão das finanças. Não entendam, por aplicação de raciocínio elementar, que estou a defender as salgalhadas que os gregos andam a fazer. Trata-se, simplesmente, duma questão “parapsicológica”: acredito que o indivíduo tem um astral muito pouco favorável. Ou, se calhar, é mais básico do que isso, não gosto de pessoas cujo nome é virtualmente impossível de pronunciar.


A verdade é que o homem falou e falou e, só depois de refletir um pouco, é que percebi que ele não enviou nenhuma mensagem à Grécia. Nada de positivo. Limitou-se a atirar frases em tom ameaçador para que a malta, em geral, ouvisse bem. Eis algumas dessas frases, num discurso onde a ambiguidade não tem lugar:


“Os acordos que a Grécia tem de cumprir não podem ser alterados, a Grécia tem de estar disposta a aplicá-los”. Aqui concordo. Assinou, cumpre.


“Caso Atenas não adote as decisões da cimeira de líderes da zona euro de 27 de Outubro, tem de se encontrar uma forma de evitar riscos de contágio para o euro”. Também aqui tem razão, embora já mostre bem qual é a sua verdadeira preocupação.


“Quem não quiser aplicar as decisões da semana passada, tem de suportar as consequências”. Isto dito por outras palavras soaria mais ou menos assim: se fosse filho meu levava já dois chapadões.


Como disse, não aprecio o senhor, mas concordo no essencial com o que disse. Então qual é a questão? O meu desacordo prende-se mais com o tom; o “savoir faire”; o entender que estamos muito mal mas que não é rosnando que lá vamos; o convencimento pessoal de que no seu país se trabalha e as contas estão equilibradas, enquanto os outros são uns malandros que nada fazem e gastam muito – esquece-se, porventura cirurgicamente, de que os tais malandros é que andaram a comprar o que eles produzem e, portanto, a enriquecê-los. Até Portugal, também na penúria, comprou-lhes dois submarinos – só que, neste caso, a eficiência alemã passou ligeiramente ao lado, pois os ditos (ou foi só um?) já vinham meio enguiçados antes mesmo de serem usados. Chama-se a isto, literalmente, meter água.


Note-se que o primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, já se mostrou disposto a retirar a sua proposta de referendo (causadora da tempestade mais imbecil de que há memória). Também recusou a marcação de eleições antecipadas, considerando a decisão “uma catástrofe”. Ou seja, os alemães puxaram-lhe as orelhas – lá está, o ministro alemão não me agrada mas não falha (aqui funcionou a tal eficiência alemã) – o grego arrepiou caminho mas, à boa maneira do político típico, recusa-se a largar aquele cargo pelo qual nutre um amor tão profundo (esquecendo-se, porém, de que a asneirada que fez é merecedora de irradiação definitiva… isto se a Grécia funcionasse, mas os últimos balanços dizem precisamente o contrário).