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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

OE 2012 e a comitiva na Disneyland

O OE 2012 foi hoje aprovado na generalidade. Não há muito a dizer (ou há, mas já estamos fartos de saber, de comentar, de entender que serão rigorosamente os mesmos de sempre a sofrer – sem tirar nem por, um que seja)!

Ficamos a saber pelo ministro da Segurança Social, Mota Soares, que este orçamento tem em consideração os mais desprotegidos. É claro que, por uma questão de justiça social, isso tranquilizaria um pouco as mentes mais solidárias, altamente deprimidas depois de nos terem demonstrado matematicamente que este orçamento aplicava linearmente o método da falsa truncatura, isto é, trunca cegamente onde é fácil – os tais de sempre, aquela classe que em tempos se chamou de média e da qual se dizia ser a espinha dorsal da sociedade - e em casos de riqueza mórbida assobia para o lado… se não me engano ouvi, neste contexto, o argumento de que era muito complicado.

No entanto, sol de pouca dura, ou nem há sol de todo. Vejamos o que valem as palavras dos políticos e vamos por nomes concretos: convivendo lado a lado com o paraíso prometido por Mota Soares aos mais desfavorecidos, o secretário de estado dos transportes, Sérgio Monteiro, que suspeito, terá alguma quezília com o referido ministro diz que os idosos e os estudantes vão perder os descontos de 50% nos passes sociais a partir de 01 de janeiro de 2012. Não carece perguntar o que havemos de fazer às folhinhas A4 dos discursos destas duas personagens!

A propósito, acredito que, por definição, o desacerto assenta bem no político, faz parte da sua essência enquanto ser falante e disléxico. Assim, recuo um pouco no tempo para lembrar-vos de como a harmonia governativa é uma questão de natureza puramente “conceptual”:

Em 31/10/2011 (ou por aí) o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Miguel Mestre, proferiu: “Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras”, acrescentando que o país não pode olhar a emigração apenas com a visão negativista da “fuga de cérebros”. Por outras palavras, aconselhou jovens a “dar o fora”.

Ora, em 2/8/2011, um tal de Álvaro Santos Pereira, que, se não me atraiçoa a memória é apenas o ministro da economia do mesmo governo, dizia: “se nada for feito, em breve estaremos todos emigrados”, apontando vários erros dos últimos anos de governação. Tudo isto é hilariante… tudo, não: estes nossos amigos, com o que ganham, não vão sentir a crise nem o resultado das suas próprias medidas de austeridade; mas a maioria dos portugueses, vai sentir e não é pouco.
Houve ainda a questiúncula de ameaçar as “amas” com pena de prisão (desculpem não detalhar a questão, ela está nos jornais com os argumentos de ambos os lados).

E, lá pelo meio, o primeiro-ministro, em pessoa, teve a necessidade de intervir, para explicar à nação, em particular, e ao mundo, em geral, que, afinal, o seu ministro dos negócios estrangeiros, Paulo Portas, não anda desaparecido nem um bocadinho. Afinal, reapareceu nas funções de acompanhante de luxo, ou VIP, se calhar parece menos esquisito. Cavaco Silva foi recebido por Obama durante meia hora. PP vai na comitiva Presidencial

Tal visita deixou-me confuso, pois cheguei a pensar que os problemas que tínhamos para resolver estão em Portugal e na Europa. Esta ida aos EUA faz-me lembrar um pouco conceitos como fuga para a frente e a necessidade de justificar o orçamento presidencial, etc..

De fato, depois dessa meia hora seria de esperar o quê? Que as taxas de juro esquizofrénicas que os mercados aplicam ao nosso país iriam baixar? Que os EUA vão-nos dar alguma coisa, uma mais-valia qualquer? Que a Europa vai encarreirar por um caminho mais decente, equilibrado e humano?

O que resultou deste encontro, certamente a reter para uma posteridade a longo prazo, pode resumir-se nos dois pontos seguintes:

Cavaco Silva garantiu que Portugal cumprirá as metas do programa de assistência financeira e Obama “expressou o apoio da administração norte-americana à execução do programa de assistência financeira que Portugal neste momento tem em prática” e reconheceu “a seriedade e responsabilidade dos portugueses em geral nesta matéria”.

A única questão pertinente que me ocorre é: o que é que esta comitiva foi fazer verdadeiramente aos Estados Unidos, aparte as compras que algumas das mulheres certamente aproveitaram para fazer?

É o nosso dinheiro a esvair-se em contínuo e em uníssono com os discursos da austeridade obrigatória.