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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Os défices orçamental e governativo: crónica de uma derrapagem anunciada


Vítor Gaspar, o ministro das Finanças, admitiu ontem no Luxemburgo que o cumprimento do défice orçamental deste ano poderá estar em risco.

Razões apontadas para tal facto nefasto:

1. Receitas fiscais inferiores ao previsto
2. Persistência da instabilidade na zona euro.

A primeira razão envolve aquela característica extraordinária comum a quase todo o dirigente português: a desfaçatez, vulgo, sem-vergonhice!

Passo a explicar: é do conhecimento de todos os portugueses que, desde há muito tempo uma série de gente preocupada apontava a austeridade como factor de asfixia que iria matar a economia, arrasar o consumo, as receitas de impostos, fazer disparar o desemprego, entre outras consequências igualmente degradantes. O governo, com a arrogância e enfado habituais em todos os que nem acreditam na forma como chegaram à liderança neste país, ignorou essa gente, rotulou-os de irresponsáveis, nemse deu ao trabalho de pensar no que “vinha de baixo”.

Agora – eis a desfaçatez – vem preparar o caminho para o anúncio de um potencial falhanço das suas metas. E justifica esse falhanço precisamente com uma das consequências da austeridade que irredutivelmente impôs, MUITO PARA ALÉM DO QUE LHE FOI EXIGIDO INTERNACIONALMENTE.

Temos pois, além do mais, um governo dotado do sadismo típico das ditaduras que, até por acaso, os portugueses já conheceram noutros tempos. O princípio parece ser: infligir dor faz bem ao amadurecimento da alma. Deduz-se, assim, que os portugueses devem agradecer aos seus beatíficos governantes o crescimento espiritual que ocorre de forma generalizada por todo o país.

Especificamente no que respeita à austeridade, nunca é de mais referir que este competente governo achou por bem castigar sectariamente um grupo específico de portugueses - não porque fossem os culpados da crise mas porque não vai à bola com eles; não porque a escolha desse grupo tenha por base uma justificação inteligível mas porque sempre houve este odiozinho doutrinário de tudo o que é público. Esquecem-se que também esses lhes pagam a vida sempre faustosa de que nunca abdicam, mesmo nestes tempos de crise, desemprego e desespero para muita gente… e no momento exato em que fazem discursos de “apertar o cinto”. O cinismo dos que dizem que “ESTAMOS” de tanga é sórdido.

A segunda razão invocada também não deixa de ser curiosa pois se, antes, a crise internacional era entendida como uma desculpa esfarrapada para a má governação, agora, esse conceito avançado de instabilidade na zona Euro serve perfeitamente como justificação para as derrapagens, choques frontais, capotanços e sabe Deus mais o quê!

PATÉTICO no mínimo, não? É que isto nem é notícia nenhuma!